segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Curiosidade


Cultura Material. Os Araweté possuem uma cultura material bastante simples, dentro do horizonte tupi-guarani. Isto se pode explicar, em parte, pelo estado constante de alarme e fuga diante de inimigos a que este povo esteve sujeito nas últimas décadas; em parte, pelo trauma do contato. Em sua simplicidade mesma, a cultura material dos Araweté não permite uma aproximação com a de qualquer outro grupo tupi-guarani em particular. A predominância absoluta do cultivo do milho sobre o da mandioca também distingue os Araweté dos demais tupi-guarani amazônicos. Os homens têm barba espessa, que costumam deixar crescer em cavanhaque; andam nus, com apenas um cordão amarrado no prepúcio. As mulheres trazem um costume de quatro peças tubulares (cinta, saia, tipóia-blusa e um pano de cabeça), tecido de algodão nativo e tingido de urucum. Elas portam brincos feitos de peninhas de arara dispostas em forma de flor, pendentes de enfiadas de semente de ciñã, bem como colares desta mesma conta. Os homens usam os mesmos brincos, porém mais curtos. O cabelo é cortado em franja reta na testa até a altura das orelhas, de onde cresce até a nuca dos homens e a espádua das mulheres. A tintura e a cor básica dos Araweté é o vermelho-vivo do urucum, com que cobrem os cabelos e o corpo, untando-os uniformemente. No rosto, porém, podem traçar apenas uma linha horizontal na altura das sobrancelhas, uma ao longo do nariz, e uma linha de cada orelha às comissuras labiais. Este padrão é também usado na decoração festiva, quando é traçado em resina perfumada e recoberto com as penas minúsculas de cotingas de plumagem azul brilhante. A plumagem do gavião-real é grudada nos cabelos. O arco, o chocalho e as vestes femininas. Apesar da austeridade material dos Araweté, eles fabricam três objetos tecnicamente muito elaborados, e que além disto lhes são exclusivos: o arco, o chocalho aray do pajé e a vestimenta feminina.O arco araweté é feito de ipê, e é mais curto, curvo e largo que a maioria dos arcos indígenas brasileiros. Cada tronco de ipê pode servir à fabricação de vários arcos. A madeira era trabalhada com ferramentas de osso e pedra (agora com machados e facões de aço), e é aplainada com um formão feito de dente de cotia, lixada com uma folha áspera até ficar completamente lisa, e por fim cuidadosamente aquecida no fogo e vergada até ganhar forma adequada. Usa-se o leite do coco-babaçu ou a gordura de larvas que vivem nesta palmeira para tornar a madeira mais fácil de curvar.A corda do arco é feita de fibra de curauá, uma bromeliácea cultivada.O chocalho aray de pajelança é um cone invertido trançado de talas de arumã, recoberto de fios de algodão até deixar apenas a parte superior - que é a base do cone - exposta. Um floco de algodão forma um "colarinho" em volta da parte descoberta; ali se inserem quatro ou cinco penas caudais de arara vermelha, dando ao objeto a aparência de uma tocha flamejante. Pedaços de conchas de um caramujo do mato são colocados dentro do cone trançado. O aray produz um som chiante e contínuo; ele é usado pelos pajés para acompanhar os cantos ée para realizar uma série de operações místicas e terapêuticas: trazer os deuses e almas dos mortos à terra para participarem das festas, reconduzir a alma perdida de pessoas doentes, ajudar no tratamento de ferimentos e picadas de animais venenosos.

Um comentário:

  1. Quando dizemos que um objeto indígena tem qualidades artísticas, podemos estar lidando com conceitos que são próprios da nossa civilização, mas estranhos ao índio. Para ele, o objeto precisa ser mais perfeito na sua execução do que sua utilidade exigiria. Nessa perfeição para além da finalidade é que se encontra a noção indígena de beleza. Desse modo, um arco cerimonial emplumado, dos Bororo, ou um escudo cerimonial, dos Desana podem ser considerados criações artísticas porque são objetos cuja beleza resulta de sua perfeita realização.

    http://www.arteducacao.pro.br/hist_da_arte/hist_da_arte_prebrasil.htm#A arte dos índios brasileiros

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